Pesquisadora do CEM destaca papel dos agentes comunitários de saúde em texto na Lancet

Agressões, falta de orientação e IPIs torna difícil a atuação efetiva dos agentes, ressaltam cientistas.

Janaína Simões

A seção Comment, da The Lancet, uma das publicações científicas mais bem conceituadas do mundo, traz texto de Gabriela Lotta, pesquisadora do Centro de Estudos da Metrópole (CEM-Cepid/Fapesp), professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e autora principal da publicação, na qual se destaca a negligência com que os agentes comunitários de saúde (ACS) estão sendo tratados durante a pandemia da Covid-19. 

“No Brasil, não houve diretrizes nacionais para os serviços de atenção primária à saúde na resposta ao Covid-19”, destacam ela e os demais autores do texto: Clare Wenham, do Departamento de Política de Saúde da Escola de Economia e Ciência Política de Londres; João Nunes, do Departamento de Política da Universidade de York (Reino Unido); e Denise Nacif Pimenta, do Instituto René Rachou, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz Minas).

No Comment, eles contam que os ACS no Brasil não são considerados profissionais de saúde. Estimativas apontam que apenas 9% receberam treinamento em controle de infecção e equipamentos de proteção individual (EPI). Os sindicatos estimam que pelo menos 50 ACS morreram por infecção de Covid-19. “O número é provavelmente subestimado, já que as mortes de ACS não são registradas nas estatísticas oficiais de mortalidade dos trabalhadores da saúde no Brasil”, acrescentam.

Foto: Prefeitura de São Paulo

São mais de 286 mil os agentes comunitários de saúde hoje no Brasil que prestam atendimento primário de saúde em seu território, fazem visitas domiciliares e estabelecem uma relação de confiança entre as comunidades e o sistema de saúde. A proximidade deles com as comunidades é fundamental para a vigilância de surtos e comunicação de riscos, conforme foi observado no surto de zika. Seriam, portanto, profissionais fundamentais para um sistema de combate à pandemia.

No entanto, “a posição atual dos ACS mostra toda a extensão do desastre de saúde pública no Brasil”, ressaltam. As ameaças de agressões, a falta de orientação sobre seu papel na pandemia, os riscos que sofrem de se contaminar ou serem vetores da doença são alguns dos tópicos abordados no texto na Lancet, que pode ser acessado em https://www.thelancet.com/pdfs/journals/lancet/PIIS0140-6736(20)31521-X.pdf


Sobre o CEM:
Criado em 2000, o Centro de Estudos da Metrópole (CEM) é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Cepid-Fapesp) e reúne cientistas de várias instituições para realizar pesquisa avançada, difusão do conhecimento e transferência de tecnologia em Ciências Sociais, investigando temáticas relacionadas a desigualdades e à formulação de políticas públicas nas metrópoles contemporâneas. Sediado na Universidade de São Paulo (USP) e no Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), o CEM é constituído por um grupo multidisciplinar, que inclui pesquisadores demógrafos, cientistas políticos, sociólogos, geógrafos, economistas e antropólogos.


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