Pandemia da Covid-19 cria novo grupo de vulneráveis: homens e mulheres brancos atuantes em serviços não essenciais
Os trabalhadores informais, que concentram principalmente mulheres negras e homens negros, são historicamente os mais vulneráveis no mercado de trabalho e, no contexto de avanço da Covid-19, o grupo que está mais sob risco de desemprego e perda de renda. No entanto, a pandemia inaugura a vulnerabilidade para um novo segmento: homens e mulheres brancos, com ensino superior completo e vínculos mais estáveis, e que atuam em setores classificados como “Não Essenciais” pelo Governo Federal ou então em setores “Essenciais” que foram economicamente muito afetados.
“A novidade inaugurada pela pandemia da Covid-19 foi a de classificar como não-essenciais exatamente as atividades nas quais os trabalhadores com Ensino Superior se concentram mais”, destacam os pesquisadores Rogério Jerônimo Barbosa, pós-doutorando do Centro de Estudos da Metrópole (CEM-Cepid/Fapesp), Ian Prates, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e Social Accountability International, e Jefferson Leal, cientista político e professor do Instituto de Ciências Sociais e Comunicação (ICSC) da Universidade Paulista (Unip), na nota técnica número 3 da Rede de Políticas Públicas & Sociedade. Eles ressaltam, ainda, que os “tradicionalmente vulneráveis” são mais vulneráveis que os “novos vulneráveis”.
Os negros, homens e mulheres, detém os mais vínculos frágeis. Essas pessoas compõem a maior parte da informalidade. Quando empregados no setor privado, são frequentemente desprovidos de contratos de trabalho e seguridade social – e suas demissões são mais facilmente processadas, por não imporem custos trabalhistas ou serem mais difíceis de enquadramento pela Justiça do Trabalho. As mulheres negras, em especial, compõem o grupo mais vulnerável. Boa parte presta serviços domésticos sem carteira assinada – atividade que, em larga medida, foi paralisada sem remuneração.
Em nota técnica anterior, a rede mostra que 75,5 milhões de pessoas, que representam 81% da força de trabalho nacional, experimentam algum tipo de vulnerabilidade em virtude dos efeitos da pandemia da Covid-19. A classificação da vulnerabilidade, além de levar em conta as características dos vínculos e posições no emprego, considera também a performance das empresas (utilizado dados de geolocalização e receitas/faturamento) após medidas de isolamento social, necessárias para a desaceleração do avanço da doença.
(Foto: Marcos Santos/USP Imagens)
A atual publicação atualiza a classificação da vulnerabilidade dos trabalhadores, identifica os laços entre os vínculos de trabalho e os setores econômicos e mostra os graus diferentes de vulnerabilidade quando relacionados às variações regionais e grupos sociais por educação, sexo e raça. Segundo estimativas desta pesquisa, 83,5% dos trabalhadores encontram-se em posições vulneráveis: 36,6% porque possuem vínculos informais (altamente instáveis); 45,9% porque, embora formais, foram drasticamente afetados pela dinâmica econômica, formando o grupo de “novos vulneráveis”.
Outras conclusões que se destacam no estudo:
• A distribuição regional dos grupos de vulnerabilidade é razoavelmente semelhante em todo o país. Mas há nuances. Regiões menos desenvolvidas, como Norte e Nordeste, tem maior participação de trabalhadores em setores essenciais e com vínculos mais frágeis. No Sul, Sudeste e Centro Oeste, a maior vulnerabilidade decorre da grande presença de ocupados em setores não essenciais.
• A diferença da vulnerabilidade de homens e mulheres é resultado da segregação setorial: homens estão mais presentes em setores essenciais e mulheres nos setores não essenciais.
• A diferença da vulnerabilidade de negros(as) e brancos(as) é um resultado das diferenças de vínculo: brancas(os) têm vínculos mais estáveis e negras(os) têm vínculos mais frágeis. •
A Rede de Políticas Públicas & Sociedade faz parte do projeto de formação da rede de pesquisa “Covid-19: Políticas Públicas e as Respostas da Sociedade”, que reúne pesquisadores de diversos grupos para realizar estudos que proponham aperfeiçoamento de políticas públicas do governo para o enfrentamento da crise do coronavírus. O CEM integra essa rede.
Confira a nota técnica na íntegra aqui.
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Sobre o CEM:
Criado em 2000, o Centro de Estudos da Metrópole (CEM) é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Cepid-Fapesp) e reúne cientistas de várias instituições para realizar pesquisa avançada, difusão do conhecimento e transferência de tecnologia em Ciências Sociais, investigando temáticas relacionadas a desigualdades e à formulação de políticas públicas nas metrópoles contemporâneas. Sediado na Universidade de São Paulo (USP) e no Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), o CEM é constituído por um grupo multidisciplinar, que inclui pesquisadores demógrafos, cientistas políticos, sociólogos, geógrafos, economistas e antropólogos.
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