Livro analisa desigualdade e violência urbanas por meio da trajetória de carros roubados em São Paulo

Publicação é resultado de pesquisa conduzida por Gabriel Feltran, organizador do livro, quando ele era pesquisador do Centro de Estudos da Metrópole (CEM-Cepid/Fapesp).

Janaína Simões

Um conjunto de estudos desenvolvido no Centro de Estudos da Metrópole (CEM-Cepid/Fapesp) resultou no livro “Stolen Cars: A Journey Through São Paulo’s Urban Conflict”, organizado por Gabriel Feltran, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). O livro acaba de ser lançado pela Wiley Editora e integra o Series in Urban and Social Change (SUSC), ligada ao International Journal of Urban and Regional Research (IJURR), um dos mais importantes periódicos internacionais no que se refere a pesquisas sobre o urbano.

Baseado em um estudo etnográfico de cinco anos, o livro traz os resultados de uma pesquisa na qual Gabriel Feltran, junto de sua equipe , acompanhou as jornadas de cinco carros roubados em São Paulo, de seus proprietários e de seus ladrões, para examinar como os padrões e mecanismos das desigualdades e violência urbanas são reproduzidos.

A publicação destaca de que forma a vida cotidiana está entrelaçada com as transformações urbanas estruturais e utiliza uma narrativa etnográfica para mostrar como o desenvolvimento urbano produz várias formas de ilegalidade e crimes violentos. Cada capítulo discute um tema específico, incluindo as distinções entre o roubo violento e o roubo não violento ou o papel das fronteiras nacionais interligando economias ilegais e legais. Como destaca a editora, o livro fornece uma estrutura teórica original para uma cadeia de abastecimento urbana e transnacional raramente estudada, com dados empíricos e uma combinação de diferentes metodologias para demonstrar esses mecanismos.

Gabriel Feltran esteve associado ao CEM-Cepid/Fapesp de 2009 a 2019, tendo sido coordenador de Pesquisa do Centro entre 2014 e 2019. Foi pesquisador convidado e professor visitante na Universidade de Oxford (2019), Goldsmiths University of London (2019) e Humboldt University Berlin (2017), e obteve seu doutorado em Ciências Sociais (2008) pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com período de pesquisas na École des Hautes Etudes en Sciences Sociales (EHESS).

Para marcar o lançamento, haverá um debate sobre a publicação dentro da programação do seminário “Cities are back in town”, organizado pelo Centre d´études europénnes et de politique comparée (CEE) da Sciences Po. Após a exposição de Gabriel Feltran, haverá comentários de Laurent Fourchard, professor e pesquisador do Centro de Estudos Internacionais (CERI) da Sciences Po. O debate acontecerá online no dia 10 de fevereiro, às 13h30. Para participar, é preciso se inscrever preenchendo o formulário disponível aqui. Mais informações na página oficial do evento ou pelo e-mail.

O que traz cada capítulo

Na introdução, Feltran apresenta um dos casos de roubo de carro e faz um panorama geral do livro, seus objetivos e aportes teóricos utilizados. O primeiro capítulo aborda os roubos dos outros quatro veículos acompanhados pelo livro, falando da relação entre quem rouba e quem é vítima, caracterizando espacialmente os locais onde esses encontros violentos ou desagradáveis se dão: a periferia paulistana concentra os crimes violentos, os bairros de elite os furtos. O segundo capítulo traz o Estado e seus atores para a discussão, a partir de um estudo original da letalidade policial após crimes violentos em São Paulo. No terceiro capítulo é a vez de se falar da regulação formal do mercado de veículos, com grande foco na ação das seguradoras. Verifica-se como mercados legais e ilegais estão economicamente interligados. O capítulo quatro aborda os leilões de veículos, que permitem explicitar os mecanismos de reprodução das desigualdades urbanas e também o caminho pelo qual o dinheiro provindo do mercado ilegal se dilui no mercado regulado.

No quinto capítulo, apresenta-se um estudo etnográfico sobre a desigualdade presente no mercado de desmanche de veículos na capital paulista, revelando a convivência entre regimes normativos estabelecidos por grupos criminosos como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e aqueles criados pelo Estado. Este argumento continua a ser desenvolvido no capítulo 6, que expande a discussão para a disputa em relação ao modelo de regulação que se deve estabelecer para combater o mercado ilegal de veículos, estabelecida entre diversos atores (forças policiais, empresas de seguro, políticos, operadores de desmanches, leiloeiros etc).

O capítulo 7 examina as consequências das disputas pelo dinheiro do mercado de veículos roubados no plano da política nacional. Policiais, corretores, seguradoras e leiloeiros buscam seu espaço na regulação do mercado, com efeitos políticos nada triviais. O capítulo 8 examina mecanismos da coprodução de desigualdade urbana em escala global, relacionando o roubo de veículos no Brasil à produção de pasta de coca na Bolívia, e demonstrando como cidades pequenas de fronteira estão ligadas a grandes metrópoles por meio do comércio de veículos roubados e de drogas. A conclusão retoma os aportes teóricos utilizados e oferece novos temas para futuras pesquisas.

Para adquirir o livro, acesse o site da editora


Sobre o CEM:

Criado em 2000, com início das atividades em 2001, o Centro de Estudos da Metrópole (CEM) é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Cepid-Fapesp) e reúne cientistas de várias instituições para realizar pesquisa avançada, difusão do conhecimento e transferência de tecnologia em Ciências Sociais, investigando temáticas relacionadas a desigualdades e à formulação de políticas públicas nas metrópoles contemporâneas. Sediado na Faculdade de Filosofia, Letras, Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) e no Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), o CEM é constituído por um grupo multidisciplinar, que inclui pesquisadores demógrafos, cientistas políticos, sociólogos, geógrafos, economistas e antropólogos.


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