Pesquisadoras do CEM obtêm título de livres-docentes pela USP
As pesquisadoras do Centro de Estudos da Metrópole (CEM) Mariana Giannotti e Bianca Freire-Medeiros obtiveram recentemente o título de livre-docente pela Universidade de São Paulo (USP). A livre-docência é um alto grau de titulação presente no sistema universitário paulista (assim como em algumas outras universidades federais brasileiras), obtido por acadêmicos que se submetem a diversas provas (escrita, de aula, de defesa de memorial), e em especial defendem uma tese inédita junto a uma banca composta por professores titulares ou livres-docentes. Mariana apresentou a tese “Desigualdades Socioespaciais no Transporte Urbano”, enquanto Bianca defendeu a tese “A aventura de uns é a miséria de outros: mobilidades socioespaciais e pobreza turística”. Ambas se tornam, agora, professoras associadas em seus departamentos.
Mariana é professora da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), onde coordena o Laboratório de Geoprocessamento (LabGEO/Poli - LGP/EPUSP), e é pesquisadora principal no CEM. Bianca é professora do Departamento e do Programa de Pós-Graduação de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (DCP-FFLCH) da USP, coordenadora do UrbanData-Brasil, um banco de dados bibliográfico que reúne informações publicadas, sob diferentes formatos editoriais, acerca das várias dimensões do urbano brasileiro (leia mais sobre o projeto aqui), e é pesquisadora associada do CEM.
Ambas as pesquisadoras são integrantes do Conselho do CEM, um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Cepid-Fapesp). Mariana coordena a Área de Transferência Tecnológica do CEM e também uma das linhas de pesquisa do CEM que trata justamente do tema da sua tese de livre-docência. Já Bianca coordena a cooperação entre o CEM e o UrbanData-Brasil.
Leia abaixo os resumos das teses de livre-docência:
Título: “Desigualdades Socioespaciais no Transporte Urbano”
Resumo: “O texto de livre-docência sistematiza as produções científicas da linha de pesquisa que tem como objetivo investigar as desigualdades socioespaciais relacionadas ao transporte urbano. A estratégia metodológica envolve principalmente análises de acessibilidade e mobilidade baseadas em métodos quantitativos, a partir de dados de fontes heterogêneas, bem como a exploração de métricas de forma sistematizada e, quando possível, dentro de um painel comparativo entre cidades no Brasil e no exterior. A produção científica selecionada, composta por 12 artigos internacionais publicados em revistas de alto impacto (JCR > 2,5), busca avançar no debate internacional sobre desigualdades no transporte urbano a partir de cinco frentes complementares. Primeiro, traz novas perspectivas a partir dos estudos empíricos em contexto de grande desigualdade no sul global, pouco presentes dentro de um campo que é dominado por publicações de pesquisadores com evidências empíricas do norte global. Segundo, explora a variabilidade espaço-temporal, com base em métodos de Geoprocessamento, de grandes volumes de dados espaciais. Terceiro, avança através da inclusão da dimensão raça, que foi incorporada progressivamente nesses artigos e é raramente encontrada na produção científica da Engenharia de Transportes. Quarto, ao evidenciar a importância de considerar o custo de transporte, para além do tempo de viagem, que é majoritariamente usado nessa literatura para o cômputo das desigualdades relacionadas ao transporte público urbano. Quinto, ao levantar questões metodológicas, em métricas amplamente adotadas internacionalmente, que podem enviesar a análise de desigualdades. Esses estudos comparativos buscam enriquecer a discussão, uma vez que viabilizam a avaliação de quão generalizáveis são alguns dos processos apontados pela comunidade científica, além de impulsionar o questionamento de teorias na área de transporte que não demonstram aderência com os achados em estudos empíricos no sul global. Para tal, foram feitos esforços analíticos a partir da aplicação e adaptação de métricas para captar as condições de desigualdades de mobilidade e acessibilidade em perspectivas multidimensional, multiescalar e multimodal, dentro e fora do Brasil.”
Título: “A aventura de uns é a miséria de outros: mobilidades socioespaciais e pobreza turística”
Resumo: “Esta tese ergue-se na confluência entre os estudos das mobilidades e os estudos urbanos. O objetivo geral é contribuir com o debate acerca das desigualdades: de que maneira as distâncias socioespaciais relacionam-se com as iniquidades socioeconômicas? Se a circulação de sujeitos e objetos (i)materiais implica hierarquias e interações complexas, qual é o estatuto teórico e potencial analítico das mobilidades – e das imobilidades – na teoria social? Com essas indagações no horizonte, a Parte I discute, em suas origens e impactos, algumas das diretrizes epistêmicas do chamado mobility turn. O primeiro capítulo reflete sobre a ambivalência constitutiva das mobilidades no contemporâneo – ao mesmo tempo recurso e imperativo, valor cobiçado e dispositivo coercitivo; o capítulo 2 redefine a mobilidade urbana como soma de todas as mobilidades que se sobrepõem na cidade (corpóreas, físicas, comunicativas, virtuais e/ou imaginativas); o capítulo 3 volta-se para as mobilidades turísticas que, enquanto realidades complexas, demandam suspensão das definições prévias e estanques sobre diferentes ‘tipos de viagem’. Os capítulos que compõem a Parte II buscam identificar aquilo que existe de transnacional e historicamente fundamentado nas supostas peculiaridades locais e recentes da favela turística. O capítulo 4 discute as condições de possibilidade para a emergência do turismo de pobreza como prática, narrativa e objeto de investigação; a partir da noção de favela turística & pacificada, o capítulo 5 analisa a inflexão representada pelo turismo de pobreza como política pública. A Parte III recupera os intensos debates éticos e políticos, as expectativas e justificações dos atores envolvidos, as imagens e objetos, conceitos e sensibilidades que acompanharam o advento e consolidação da Favela da Rocinha como destino turístico. Costurando as três partes da tese está o que a autora chama de ancoradouro: um recurso analítico-descritivo que permite apreender as relações entre os fluxos, os fixos e as fricções em sua qualidade sistêmica e multiescalar. Entrelaçando relatos etnográficos e inflexões conceituais de amplo alcance, busca-se um olhar multifacetado sobre as tensões da experiência urbana brasileira e da economia turística global, sempre levando em conta as microrrelações de poder entre diferentes agentes, instituições e infraestruturas de acesso.”
Sobre o CEM:
Criado em 2000, com início das atividades em 2001, o Centro de Estudos da Metrópole (CEM) é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Cepid-Fapesp) e reúne cientistas de várias instituições para realizar pesquisa avançada, difusão do conhecimento e transferência de tecnologia em Ciências Sociais, investigando temáticas relacionadas a desigualdades e à formulação de políticas públicas nas metrópoles contemporâneas. Sediado na Faculdade de Filosofia, Letras, Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) e no Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), o CEM é constituído por um grupo multidisciplinar, que inclui pesquisadores demógrafos, cientistas políticos, sociólogos, geógrafos, economistas e antropólogos.
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