“São Paulo em Teses” cataloga quase 6 mil pesquisas sobre o urbano

Levantamento foca dissertações de mestrado e teses de doutorado, de livre docência e de provimento de cátedra que tratam da questão urbana no estado de São Paulo.

Janaína Simões

Um trabalho de longo prazo resultou em um novo banco de dados bibliográfico, o “São Paulo em Teses: Catálogo Bibliográfico”, que abrange pesquisas feitas entre 1940 e 2015 sobre o urbano paulista. O extenso levantamento bibliográfico traz 5.930 referências de dissertações de mestrado e teses de doutorado, de livre docência e de provimento de cátedra que tratam do tema, abrangendo estudos sobre os 645 municípios do Estado de São Paulo, incluindo a capital. O projeto é uma iniciativa do UrbanData-Brasil e contou com financiamento e suporte técnico do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Cepid-Fapesp). 

A base inclui como campos as seguintes informações: autor principal, título, disciplina, ano de publicação, idioma, instituição, localização eletrônica, orientador, programa, referência temporal, gênero do autor, tipo de material e área temática de cada referência bibliográfica. "Há também um dicionário que explica cada um desses campos. Além de auxiliar os cientistas que estudam o urbano de forma geral, ou o estado paulista, em particular, o “São Paulo em Teses” traz informações sobre a evolução das pesquisas em relação aos temas e quantidade de publicações, mostra as continuidades e aponta áreas emergentes de pesquisa sobre o urbano.

Foto: Marcos Santos / USP Imagens

A coordenação do projeto é de Bianca Freire-Medeiros, professora livre docente do Departamento de Sociologia da USP, que também coordena o UrbanData-Brasil, um banco de dados bibliográfico sobre as várias dimensões do urbano brasileiro, e atualmente vinculado ao CEM. Além de Bianca Freire-Medeiros, Alexandre Magalhães, Gleicy Silva, Ana Carolina Machado e Gabriela Rocha assinam como autores, mas o trabalho de pesquisa foi feito por uma ampla equipe de assistentes de pesquisa, bolsistas e colaboradores. O “São Paulo em Teses” é dedicado à socióloga Licia do Prado Valladares, falecida em 2021, fundadora do UrbanData-Brasil, idealizadora e iniciadora do projeto e uma das pesquisadoras mais relevantes em sua área.

“Trata-se de um acervo raramente abordado, apesar do crescimento vertiginoso da pós-graduação brasileira e das transformações no perfil dos discentes no século XXI. Entre 2005 e 2015 produziu-se, em média, três vezes mais teses e dissertações sobre o urbano no Estado de São Paulo do que nos 65 anos anteriores”, ressalta a coordenadora. “A intenção não é substituir uma aproximação qualitativa, voltada ao conteúdo de cada obra, mas prover dados que sirvam como ponto de partida para análises e avaliações críticas da produção acadêmica sobre o urbano brasileiro”, destacam os autores no documento que explica o histórico, destaca alguns resultados da análise da base de dados e contém as instruções para uso da plataforma a partir de exemplos práticos e didáticos.

Coleta e análise

A coleta da bibliografia foi realizada em duas etapas. A primeira iniciativa (SP1) foi feita pela equipe coordenada por Licia Valladares e contemplou a produção, sobretudo nacional, a respeito da questão urbana no estado de São Paulo entre os anos de 1940 e 2004. Em 2018, o UrbanData-Brasil vinculou-se ao CEM, e deu início à atualização da base bibliográfica, dos parâmetros classificatórios, do sistema de armazenamento de dados e das ferramentas de busca (SP2), estendendo o recorte temporal em dez anos (2005-2015). Enquanto uma parte da equipe se dedicava ao monitoramento e coleta das novas referências, outra revia minuciosamente a totalidade do banco de dados original. Ao final, a base chegou às 5.930 referências.

A estrutura de funcionamento do UrbanData-Brasil/CEM organiza-se em torno de quatro eixos principais: monitoramento, coleta, classificação e análise. O monitoramento e a coleta são feitos nas plataformas disponíveis na internet; visitas presenciais a bibliotecas e outros repositórios de dados bibliográficos foram feitas para verificação de informações e coleta de dados. Já como procedimentos classificatório e analítico, adotou-se o uso de referências espacial e temporal; sexo do autor; e a qual disciplina se integra a pesquisa. Também foram definidas 35 áreas temáticas (ATs) para fazer a classificação e análise.

Evolução da pesquisa sobre o urbano

“São Paulo em Teses” mostra, por exemplo, que a maior parte das pesquisas sobre as cidades paulistas divulgadas como dissertação e tese se deu no campo disciplinar Arquitetura e Urbanismo (1042), seguido por Sociologia (866) e História (672). Também revelou alguns campos de estudo do urbano emergentes a partir dos anos 2000, como Psicologia (133), Ciência Ambiental (126) e Artes (103). Educação (485) e Serviço Social (280) pertencem a esta lista, mas só aparecem no ranking das disciplinas mais frequentes depois de 2005. Esta análise do eixo disciplinar trouxe à luz a diversidade das pesquisas sobre urbano.

Já no eixo espacial, que seria a área do estado de São Paulo, a direção é oposta. Percebe-se o privilegiamento da capital e sua região metropolitana como objeto dos estudos, algo que atravessa as décadas e se faz presente em todas as áreas do conhecimento: 44% das teses e dissertações tratam do município de São Paulo; 19% do estado paulista; 9% da região metropolitana e 28% sobre os outros municípios do estado - Campinas (340), São Carlos (141), Santo André (107) são os principais.

Ao se observar a evolução das pesquisas pelo quesito Áreas Temáticas (AT), vemos que, no período compreendido entre 1940-1980,  as pesquisas focaram, principalmente, o tema “Estrutura econômica e mercado de trabalho”, seguido pelas ATs “Estrutura regional e metropolitana” e “Estrutura social.” Já no período 1981-1999, a ênfase foi na AT “Modo de vida, imaginário social e cotidiano”, mas a AT “Pobreza e desigualdade” subiu uma posição em relação ao período anterior.

Entre 2000-2015, a AT “Modo de vida, imaginário social e cotidiano” continua em primeiro lugar, mas há um crescimento significativo de trabalhos na AT “Relações étnico-raciais”. As ATs “Espaço urbano” e “Políticas públicas” superam a AT “Estrutura econômica e mercado de trabalho”, que tinha dominado os períodos anteriores. Também há uma evolução da AT “Violência”, que entre 1940 e 1969 não tinha sido tema central de nenhuma tese ou dissertação. Em 1970, aparecem cinco indicações bibliográficas sobre o tema, que dá um salto entre 1990 e 2000 - de 37 indicações para 183, mantendo certa estabilidade entre 2010 e 2015, com 191 trabalhos.

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Sobre o CEM:
Criado em 2000, com início das atividades em 2001, o Centro de Estudos da Metrópole (CEM) é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Cepid-Fapesp) e reúne cientistas de várias instituições para realizar pesquisa avançada, difusão do conhecimento e transferência de tecnologia em Ciências Sociais, investigando temáticas relacionadas a desigualdades e à formulação de políticas públicas nas metrópoles contemporâneas. Sediado na Faculdade de Filosofia, Letras, Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) e no Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), o CEM é constituído por um grupo multidisciplinar, que inclui pesquisadores demógrafos, cientistas políticos, sociólogos, geógrafos, economistas e antropólogos.


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