Pesquisa do CEM mapeia a desigualdade em mobilidade na cidade de São Paulo

Estudo consta do Mapa da Desigualdade 2020, realizado pela Rede Nossa São Paulo e pelo Programa Cidades Sustentáveis.

Janaína Simões

Apenas 18,1% da população paulistana reside em um raio de até um quilômetro de estações de transporte de alta capacidade (trem, metrô e monotrilho), apesar de o transporte público ser usado por 56,6% das pessoas nos deslocamentos motorizados. A média do tempo gasto pelos paulistanos nos deslocamentos por transporte público entre a residência e o trabalho é de 56,2 minutos. Conhecida pelos congestionamentos de automóveis, na cidade de São Paulo quase metade das famílias (45,5%) não possui nenhum automóvel.

Estes indicadores constam no capítulo sobre Mobilidade do Mapa da Desigualdade 2020, realizado pela Rede Nossa São Paulo e pelo Programa Cidades Sustentáveis e divulgado nesta quinta-feira (29/10) em evento que contou com um debate entre os candidatos à prefeitura da capital. O Mapa da Desigualdade em Mobilidade, que traz indicadores novos para o Mapa da Desigualdade, é resultado de estudo realizado por Tainá Bittencourt e Pedro Logiodice, sob a coordenação de Mariana Giannotti, pesquisadora do Centro de Estudos da Metrópole (CEM-Cepid/Fapesp) e professora da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). “As condições atuais do sistema de transporte, bem como a distribuição espacial concentrada das oportunidades de emprego, ilustradas pelos mapas preparados pelo CEM, indicam como as desigualdades de mobilidade se sobrepõem e reforçam as desigualdades identificadas em outras dimensões”, destaca Mariana.

Para mensurar o acesso ao sistema de transporte de alta capacidade, foi elaborado um mapa que indica a quantidade de pessoas que vivem próximas de estações de trem, metrô ou monotrilho, baseado em um indicador já consolidado nos estudos em mobilidade urbana. O mapa mostra que 88% dos residentes do distrito da República moram em um raio de até um quilômetro de infraestrutura de transporte público, mas em outros 29 distritos, 0% tem acesso ao transporte de alta capacidade. O ‘desigualtômetro’, relação entre o maior e o menor número, no quesito acesso a transporte de alta capacidade é de 194 vezes. 

Ao analisar a proporção das viagens por transporte público em relação ao total de viagens motorizadas, a pesquisa aponta que o transporte público é usado em 56,6% dos deslocamentos motorizados. No distrito de Perus, por exemplo, 80,5% dos deslocamentos motorizados se dão por transporte público. Já quanto ao tempo de deslocamento com transporte público, enquanto no Brás os dados revelam um gasto, em média, de 31,3 minutos, em Marsilac são 124,7 minutos.

O mapeamento traz também o número médio de transferências nas viagens ao trabalho por transporte público por distrito. Este indicador é relevante porque a necessidade de realizar mais transferências entre veículos e modos pode aumentar o tempo de viagem e reduzir o conforto e a segurança nos deslocamentos, se não houver integração e coordenação física, operacional e tarifária entre as linhas dos modos disponíveis. A média de transferências na cidade é de 1,9, mas moradores do distrito de Cidade Tiradentes, por exemplo, chegam a fazer quase três transferências, em média, nos seus deslocamentos entre residência e trabalho. 

No acesso à infraestrutura cicloviária, o Mapa mostra que em média 41% das pessoas residem em um raio de até 300 metros de distância de ciclovias e ciclofaixas. No distrito do Pari, 100% dos residentes moram a menos de 300 metros de vias dedicadas a bicicleta, enquanto nos distritos de Anhanguera, Guaianases, Itaim Paulista, Jardim Ângela, José Bonifácio, Lajeado, Marsilac, Perus e Tremembé este acesso não ocorre. O ‘desigualtômetro’ é de 88 vezes. 

O Mapa da Desigualdade 2020

O Mapa da Desigualdade 2020, realizado pela Rede Nossa São Paulo e pelo Programa Cidades Sustentáveis, traz dados que retratam a realidade dos distritos da capital paulista. O Mapa utiliza fontes públicas e oficiais, identifica prioridades e necessidades da população, procurando auxiliar na gestão e no planejamento municipal.

Com dados sobre os 96 distritos, a edição deste ano conta com indicadores dos seguintes temas: população; meio ambiente; mobilidade; direitos humanos; habitação; saúde; educação; cultura; esporte; e trabalho e renda.

O Mapa traz, ainda, alguns indicadores novos, como coleta seletiva; acesso a transporte; tempo médio das viagens ao trabalho por transporte público; acesso à infraestrutura cicloviária; homicídios de jovens; cobertura de atenção básica; entre outros.

Para consultar as tabelas: https://www.nossasaopaulo.org.br/wp-content/uploads/2020/10/Mapa-da-Desigualdade-2020-TABELAS-1.pdf 

Para consultar os mapas: https://www.nossasaopaulo.org.br/wp-content/uploads/2020/10/Mapa-da-Desigualdade-2020-MAPAS-site-1.pdf 

Para assistir ao lançamento e debate com os candidatos à Prefeitura: https://youtu.be/tz0LkXex6aI 


Sobre o CEM:
Criado em 2000, o Centro de Estudos da Metrópole (CEM) é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Cepid-Fapesp) e reúne cientistas de várias instituições para realizar pesquisa avançada, difusão do conhecimento e transferência de tecnologia em Ciências Sociais, investigando temáticas relacionadas a desigualdades e à formulação de políticas públicas nas metrópoles contemporâneas. Sediado na Universidade de São Paulo (USP) e no Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), o CEM é constituído por um grupo multidisciplinar, que inclui pesquisadores demógrafos, cientistas políticos, sociólogos, geógrafos, economistas e antropólogos.


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